quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

“O sistema é F #$&*@. Ainda vai morrer muita gente inocente”

Quando chegar dezembro e começarem as famigeradas retrospectivas, alguns assuntos são certos de aparecerem: a fantástica saga dos mineiros chilenos, presos no subsolo a 600 metros de profundidade; as eleições para vários cargos públicos de uma só vez, que nos matou de ódio por termos que decorar vários malditos números; os inúmeros terremotos pelo planeta que nos fizeram acreditar que o filme 2012 realmente tinha razão, a terra iria acabar em terremotos; a copa do mundo de futebol e o técnico amigo da branca de neve que nos fez explodir de raiva com sua infinita teimosia; e finalmente o tremendo impacto que o filme “Tropa de Elite 2” causou e continuará causando durante o tempo que ficar em exibição por aqui.
O impacto não se dará pela qualidade da edição, ou da montagem, ou da fotografia, ou do roteiro, ou até mesmo das ótimas atuações dos atores e sim pela enorme quantidade de socos no estômago que o espectador leva ao escutar a narração do capitão Nascimento. Ele não conta nenhuma novidade, mas fala tudo aquilo que nós ignoramos ou fingimos que não sabemos. Fala de forma tão clara e visceral, que não dá para ignorar ou fingir mais. É o sistema, meu caro! Para quem achava que missão dada era missão cumprida, descobrir que o buraco de uma polícia corrupta, de políticos corruptos e de uma sociedade conivente com essa podridão toda era muito, mas muito mais embaixo que o seu fuzilzinho era capaz de alcançar, deixa nosso anti-herói totalmente desbaratinado e faz o público colar na poltrona com os ossos trincando e músculos e tendões rígidos.
O longa traz menos cenas de ação que em Tropa 1, mas não é somente em cenas de Bang-bang que sentimos a adrenalina correr forte na veia. Ela corre forte o tempo todo, mas a surra que o nosso capitão aplica em um dos políticos “gente boa”, lava a nossa alma. Pela primeira vez eu vi uma surra a 400 mãos, sala lotada, diga-se de passagem. Contada de forma um pouco mais linear que no filme anterior, a proposta parece ser mesmo priorizar as idéias do que a porradaria, mas ela está lá e muito bem representada.
Quem assistir ao filme, vai reparar que o global Rodrigo Pimentel aparece fazendo uma ponta relâmpago justamente no momento em que o nosso capitão é aplaudido por populares em um restaurante, após comandar um massacre de bandidos em Bangú 1. Como o argumento do filme é dele, será que isso tem algum significado? Tenho as minhas dúvidas. E como a história foi composta com fatos reais, fica clara a relação entre o governador fictício e os últimos governadores da mesma família, que são desafetos declarados da Vênus prateada, que por acaso, assina a produção do filme. Hum... Aí tem...
Em fim, não dá para perder esse que provavelmente será o filme do ano, e falo não somente em relação aos filmes nacionais. Diversão e reflexão garantidas. Porque missão dada, parceiro; é missão cumprida.

OBS: Se “Tropa de Elite” tratava da corrupção na polícia e o tráfico nas comunidades; “Tropa de Elite 2”trata da corrupção no nível político e as milícias nas comunidades; “Tropa de Elite 3” deveria tratar da influência do “capital” na manutenção dos bolsões de pobreza e a implantação das UPP nas comunidades. Só uma sugestão...